domingo, 15 de março de 2009

Orkut: Alcimar

Olá amigos!
Esse foi o relato diário da viagem que fiz pelo RS entre 25 de janeiro e 13 de fevereiro de 2009.

Como escreveu "che guevara" sobre sua viagem com Alberto Granado pela América do Sul:
"esse não é o relato de façanhas impressionantes, é a história de duas vidas que percorreram juntas determinado caminho com identidade de aspirações e somhos"...

Durante o caminho tirei aproximademente 600 fotos e estão quase todas no meu Orkut: Alcimar ou Alcimar Pereira da Rosa.

Espero que os relatos possam ajudar outra pessoas interessadas no cicloturismo e qualquer dúvida por favor entre em contato: pererache@hotmail.com

Até a próxima!!!!!!

Oásis/Alvorada...



Sexta 13/02/2009

Os últimos km desta viagem foram tranquilos. Saí da praia eram 6h40min e cheguei em casa às 12h15min, o almoço ainda estava quente.

A RS 040 se apresenta em bom estado com acostamento regular. As condições climaticas estavam boas o que me proporcionou curtir ao máximo esses km finais. Durante a viagem de hoje, dois sentimentos distintos passavam pela minha cabeça. Por um lado me senta feliz, pois iria acabar com a saudade que sentia da família, dos amigos e das minhas coisas em geral. Mas por outro lado, conforme avançava já ia sentindo saudades da estrada, saudades de cada dia estar em um lugar diferente, com pessoas diferentes. É isso ai, não se tem tudo ao mesmo tempo. Acho que a grande filosofia é viver intensamente o hoje. Em uma de suas letras, John Lenon resumiu bem esse momento; "a vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro".

A adaptação ao caos e a vida medíocre na cidade é sempre complicado e deprimente no ínicio. Passei boa parte da tarde e noite no computador atualizando emails e fotos. Por falar em computador, esse aqui de casa é mais lento do que "A Poderosa" e eu entre Ausentes e Cambará. Também fechei os dados gerais da viagem. Lembrando que, esses números, principalmente as despesas, podem aumentar ou diminuir dependendo de seus objetivos. Por exemplo, se eu tivesse usado mais a barraca com certeza meu gasto diminuiria, mas devido o problema que aconteceu e já citado anteriormente isso não foi possível. Outra opção é levar um fogareiro junto com a bagagem e fazer sua própria comida durante o caminho. Enfim, cada um em seu devido tempo vai se ajustando as suas necessidades. Abaixo, coloco os dados da viagem:

Total de Dias: 19

Total km: 1.6045km

Média km/Dia: 85.5km

Total R$: 580,00

Média R$/Dia: 30,50

Por essa ter sido minha primeira viagem mais longa, os números foram satisfatórios para mim, mas para a próxima viagem pretendo diminuir um pouco os gastos. Tudo a seu tempo.

O que guardo desta viagem é um Rio Grande lindo com pessoas maravilhosas que tornam os momentos difíceis - e eles existem - tão pequenos que já não me lembro bem deles. Não sei se é esse par de rodas com estas tralhas empilhadas em cima e o meu semblante de liberdade que despertam nas pessoas um sentimento de bondade, o que sei é que durante o caminho encontrei as pessoas certas e as coisas foram acontecendo naturalmente. É bem provável que muitas pessoas que conheci pelo caminho já nem lembrem mais daquele ciclista vestindo uma roupa estranha e pedalando aquela bicicleta pesada. Talvez com outros nunca mais venha a ter contato algum. Mas uma coisa é certa, lembro de cada pessoa com quem conversei e guardo-os todos aqui comigo. MUITO OBRIGADO A TODOS! DE CORAÇÃO.

"Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve inicio de outra maneira. Mas já tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum". (Monteiro Lobato)

Oásis/Alvorada: 118km

Total km/Dia: 118km

Velocidade Média: 23.0km/h

Oásis...

Quinta 12/02/2009

Dia dedicado à ociosidade. Produtiva é claro. Victor Hugo, poeta e escritor francês, autor de Os Miseráveis, já dizia: “Um homem não pode ser considerado preguiçoso quando está absorvido em seus próprios pensamentos. Existe o trabalho visível, e o trabalho invisível”.

Acordei-me às 9 horas e tomei um bom café. Peguei uma revista qualquer e fui me deitar na rede. Li muito pouco, quando o final de uma aventura dessas se aproxima as lembranças não param de vir à mente, e sinceramente eu não faço nenhum esforço para que isso não ocorra. Saí da rede para almoçar e do almoço para a cama. Depois da cesta fui dar uma volta pela praia, tomar um banho naquela água escura, brincar com guris – filhos da minha anfitriã – e ficar ali de bobeira.

Agora acabei de arrumar minhas coisas para sair cedo amanhã, quero ver se chego em casa para o almoço, e dona Suely é bem pontual. Não voltarei pela freeway como os outras vezes e sim RS 040.

20:30

sábado, 14 de março de 2009

Cambará do Sul/Oásis...


Quarta 11/02/2009

Desci dos 1.031 metros de Cambará do Sul até o nível do mar, no litoral norte gaúcho em 9h40min, totalizando 160km, chegando assim em meu último posto antes de casa.

Saindo de Cambará – o tempo estava estranho, nublado e vento forte – percorre-se 32km pela RS 020, agora com excelente asfalto e bom acostamento e antes de Tainhas pega-se o acesso a rota do sol (RS 486). Esta RS concluída a pouco tempo, apresenta um excelente piso e um bom acostamento, dois túneis que atravessam as rochas no topo da serra são um espetáculo a parte. É muito boa a sensação na descida, a paisagem é de encher os olhos e faz você acordar só lá em baixo, no pé da serra. Aqui é um bom lugar para se treinar escalada com a bike.

Uns 5km antes da estrada do mar começou a chuviscar, e conforme os minutos passavam a chuva aumentava. Eu estava em uma daquelas retas intermináveis, cansado e com fome, queria encontrar um abrigo para me proteger da chuva e fazer um lanche, mas nada. A minha frente só enxergava asfalto. Nesses momentos eu “viajo”, “saio da casinha” e meu pensamento anda longe e ao mesmo tempo em vários lugares. Pois na ânsia de chegar, eu baixava a cabeça e a erguia em seguida, me apoiava no “clip” e em seguida segurava o guidão, não tinha posição que me acomodasse. Em uma desatenção, sai do asfalto para o acostamento e tentei voltar imediatamente mas a roda dianteira virou no desnível do asfalto com o acostamento e me esborrachei no chão, coisa linda de ver pessoal. Além dos arranhões e do sangue escorrendo pela perna, nada mais grave. Me ergui rapidamente louco de vergonha e segui em frente como se nada tivesse acontecido. O acidente serviu para me deixar mais ligado e atento, mas a fome ainda me incomodava.

Me protegi da chuva em arroio Teixeira, matei o que matava e ainda caia alguns pingos de chuva quando voltei a estrada do mar. Percorri a rodovia com vento contra até Tramandaí. Antes passei em Imbé para visitar a irmã do Deleon meu camarada de Santiago, que tem uma lancheria –“show de bola”, este é o nome do estabelecimento -, pena que ela não estava, pedi um xis e falei com a Caroline, sobrinha do nosso tatuador.


Por fim, cruzei Tramandaí e cheguei em Oásis. Fui até a beira do mar e tirei algumas fotos. Estou bem acomodado na casa da Solange, professora de História e amiga da família. Meu plano é ficar amanhã e descansar um pouco mais. Sexta pego definitivamente o caminho de casa, sem escalas.

21:45

Cambará do Sul/Oásis: 160km

Total km/Dia: 160.41km

Velocidade Média: 22.6km/h

Cambará do Sul...


Terça 10/02/2009

Acordei-me às 7 horas, tomei café e antes das 8 horas estava na praça esperando o casal de POA. Sentado no banco eu observava a movimentação dos turistas em frente a uma agência de turismo que os levaria de ônibus até o canyon. Segundo me informaram ontem, a agência disponibiliza guia, transporte e água pelo valor de 160,00 reais, que vai diminuindo conforme o número de pessoas aumenta. Descartei está possibilidade na hora.

Por um momento achei que a minha carona não viria e já pensava em colocar “A Poderosa” na estrada. Mas com 1 hora de atraso eis que surgem meus vizinhos de POA. Ufa! Antes tarde do que nunca, não é.

Ninguém deveria morrer antes de conhecer e admirar um cenário como este, o canyon fortaleza em seu ponto mais alto te leva acima das nuvens e te deixa estupefato diante de tamanha beleza. Uma obra gigantesca e maravilhosa da natureza.

Não posso esquecer de registrar que conhecer um lugar como esse é maravilhoso e, poder dividir essa maravilha com pessoas especiais não tem preço. Cacaio (agrônomo) e Paulete (Psicóloga) me adotaram por uma manhã. Devo a eles a visita ao canyon, o almoço – e que almoço hem – as conversas e os momentos em que passamos juntos. Obrigado aos dois, de coração.

Já conheci os dois pontos chaves desta viagem. Antes de chegar em casa, vou dar uma passada no litoral, visitar uns amigos, tomar banho de mar e pensar um pouco em tudo que aconteceu até aqui.

22:30


São José dos Ausentes/Cambará do Sul








Segunda 09/02/2009

Quando vi aqueles paralelepípedos quase chorei. Cheguei a Cambará do Sul coberto de poeira. O estado da “Poderosa” também era lamentável. Todos os avisos e advertências sobre as dificuldades e as belezas do caminho se confirmaram, e isso tudo só faz com que eu me sinta mais feliz por ter chegado até aqui.

A BR 285 vai até o posto de fiscalização da policia em São José dos Ausentes. Neste ponto temos uma bifurcação, a esquerda saímos em Timbé do Sul (SC), a direita seguimos para Cambará (RS). A partir deste ponto entro na RS 020, muito pior do que a péssima BR 285 de Ausentes.

As pedras cravadas no chão agora se multiplicaram. Não bastasse o cenário atual, São Pedro resolveu dificultar um pouco mais as coisas – sabe como é, pra ter mais emoção – e mandou uma chuvinha fina mas constante o suficiente para a estradinha virar um sabão, e eu com pneu slick. Segui em frente em minha cena quixotesca. Uma hora depois, meu companheiro de viagem – o sol – apareceu daquele jeito e se encarregou de secar tudo. Só que agora era a poeira. Dos males o menor!

Se eu não passasse por todas essas dificuldades que estou narrando, deixaria de ver paisagens únicas, que de tão belas parecem que foram pintadas. Talvez em breve o asfalto chegue nesta região e tenho dúvidas quanto a preservação deste lugar. É um trabalho de conscientização que deveria começar o quanto antes.

Depois de mais uma das tantas curvas, surge do nada a Celulose, uma indústria que extraí a celulose da madeira para a fabricação de papel. Lá está ela, grandiosa, imponente, uma fortaleza cuspindo fumaça em meio à natureza. Tudo bem que as pessoas precisem trabalhar e que ninguém vai ganhar seu sustento apenas admirando a natureza, não sou contra indústrias desde que respeitem e preservem a natureza. Deste trecho até Cambará o fluxo de caminhões aumenta e a poeira também. Fiz meu lanche num posto de gasolina em frente a fábrica.

No quartel, tinha um sargento que agora não me recordo o nome e dizia a seguinte frase; “Srs. Nada é tão ruim que não possa piorar”. Pois é, passando uns 4km da Celulose meu pneu traseiro furou, uma pedrinha o perfurou rasgando-o uns 2cm. Contei até cem, respirei fundo e tirei uma foto para rir da situação quando estivesse em casa. Tirei toda a tralha de cima da “Poderosa” e iniciei a operação. Isso tudo na beira da estrada, cada caminhão que passava me cobria de poeira. Faz parte! Concertado o pneu, improvisei um pedaço de câmara para tapar o pequeno rasgo e o proteger das pedras pois ainda faltava uns 10km até chegar a civilização.


Algumas coisas são difíceis de explicar e dão razão a aquele jargão popular que diz; “nada é por acaso”. Se o pneu não tivesse furado eu chegaria na cidade pelo menos 1 hora antes e não teria conhecido o Cacaio e a Paulete no centro de informações turísticas. Este casal de POA iria conhecer o canyon amanhã, viram a situação em que me encontrava, com o pneu danificado, e me ofereceram uma carona. É claro que topei. O plano era ir com “A Poderosa”, só que até lá são 24km, sendo que 19km de chão batido e eu não queria arriscar.


O plano para amanhã é chegar até o canyon fortaleza e para isso não importa o meio. Já dizia Hannibal: “ou encontramos uma forma, ou a inventamos”. Mas espero e acredito que o casal irá aparecer. Agora preciso dormir. Boa noite!

21:40

São José dos Ausentes: 54km

Total km/Dia: 54.42km

Velocidade Média: 10.0km/h

Vacaria/São José dos Ausentes...





Domingo 08/02/2009


Cheguei na cidade mais fria do Brasil eram 19h45min. A neblina que começara a cair desde às 18 horas tranformou a paisagem e deixou a via principal - e provavelmente única - deserta. No final da avenida de paralelepípedos encontrei um posto. No posto encontrei uma pousada e também os alimentos.

São José dos Ausentes possui de 3 a 4 mil habitantes , que vivem “isolados” entre Bom Jesus e Cambará do Sul. Para qualquer um dos lados que seus moradores decidam ir, terão de enfrentar poeira, buraco e muita pedra. Como eu tive que enfrentar.


De Vacaria até Bom Jesus a BR 285 segue excelente. De Bom Jesus a São José dos Ausentes são 43km, dos quais 16km estão asfaltados e os outros 27km são de chão batido. Estes 27km estão em obra, a empresa responsável colocou em alguns pontos do trecho brita – o tamanho das pedrinhas aqui é um pouquinho maior que as nossas – onde fica bem difícil pedalar. Onde não tem brita predominam os buracos e as pedras encravadas no solo.


Um acidente!!!!! Enquanto eu enquadrava “A Poderosa” em minha sony, um casal em sua moto passou por mim. Cinquenta metros a frente havia uma curva para a direita e o piloto não conseguiu vencer a mesma. Vi toda a cena, o casal se arrastando no chão com todas aquelas pedras por uns quatro metros. Deixei a foto para depois e corri na direção deles. Num primeiro momento permaneceram imóveis no chão, me aproximei e perguntei se estavam bem – que perguntinha cretina essa hen – a resposta foi positiva. Ajudei a moça a se erguer e, a primeira vista nenhum dos dois teve fraturas. Mas cair naquelas pedras, aiaiaiai....

Só estando aqui para imaginar porque São José dos Ausentes leva este nome. Agora, a cidadezinha tem seus encantos, que com certeza também estão escondidos como em outras cidades. Paciência, quem sabe um dia em não volto a Ausentes com mais calma.

Segundo informações que trago comigo e que colhi durante a viagem, o pior está por vir. Até aqui "A Poderosa" foi muito valente e nem por um momento ameaçou se entregar.. Amanhã irei até Cambará do Sul, terra dos canyons.

OBS: Campeonato Gaúcho/Taça Fernando Carvalho.

Internacional 2 x 1 Grêmio

23:02

Vacaria/São José dos Ausentes: 105km

Total km/Dia: 111.72km

Velocidade Média: 16.6km/h

Lagoa Vermelha/Vacaria...






Sábado 07/02/2009



Por sua localização, Vacaria ligava o Rio da Prata com o resto do país, sendo passagem obrigatória dos tropeiros que vinham do sudeste em busca do gado, solto pelos imensos campos de cima da serra.

Vacaria também é conhecida por ser uma das maiores produtoras de maçã do país. As plantações da fruta antes do perímetro urbano formam uma paisagem muito bonita e apetitosa. Descobri também que aqui é a capital do sorvete – brincadeira – é que, nunca vi um povo consumir tanto essa iguaria como aqui. Impressionante.

Na saída de Lagoa Vermelha conheci dois ciclistas, Ricardo Machado e Luana Machado – pai e filha –, eles iriam participar em Nova Petrópolis de uma competição de montain bike e pelo que entendi, iriam participar do pan-americano no Chile este ano. Se tivesse encontrado eles ontem teria ficado hospedado em sua casa e teríamos mais tempo para conversar. Boa prova pra vocês!


O caminho até Vacaria é bom, mas fica ainda melhor após o pedágio, como sempre. Saí de Lagoa Vermelha às 8h40min e cheguei ao meu destino eram 13 horas. Almocei e fui procurar algum lugar para ficar. O dia estava bem quente com um sol muito forte, mas eu estava me sentindo bem. Aquela experiência em Candelária me fez descartar o uso da barraca novamente durante a viagem. Mas caso necessite, ela ainda está sobre “A Poderosa” compondo esta estrutura ambulante. Terei que providenciar uma barraca maior para a próxima viagem.

É uma pena, mas lugares interessantes de se conhecer ficam para trás durante o caminho devido o pouco tempo disponível que tenho. Geralmente são lugares afastados dos grandes centros e de difícil acesso. Vacaria é uma dessas cidades com belezas escondidas, e talvez aí esteja a explicação do porque ainda continuam belas. Conforme avanço na viagem, fico mais convencido que o contato exagerado com o ser humano acaba com qualquer tipo de beleza.

Amanhã, "A Poderosa" e eu enfrentaremos outro tipo de terreno até chegar em São José dos Ausentes. Dos 100 km, aproximadamente 25 a 30km serão de chão batido com muita pedra pelo caminho. E eu de pneu slick. Confio plenamente em ti Kenda 1.5! Vamos em frente.

20:40

Lagoa Vermelha/Vacaria: 78km

Total km/Dia: 86.30km

Velocidade Média: 19.7km/h

sexta-feira, 13 de março de 2009

Passo Fundo/Lagoa Vermelha...



Sexta 06/02/2009

Estou em Lagoa Vermelha. Tudo bem, eu sei que disse ontem que ficaria mais um dia em Passo Fundo, mas é que o dia amanheceu nublado e se eu não estava ainda 100%, já me sentia bem melhor. E depois, eu não tinha mais nada para fazer na terra do Teixeirinha.

Sabe, já estou gostando – ou seria melhor dizer me adaptando – sei lá, não interessa no momento definir o verbo correto, o que quero dizer é que não me incomoda o fato de alterar quantas vezes for necessário o cronograma inicial, ir dormir sem saber o meu destino de amanhã. Isso tem ocorrido com frequência, mas não estou nem aí. Com o tempo e mais experiente, saberei planejar melhor a logística.

Sem o sol pra dificultar as coisas, o caminho até lagoa Vermelha foi tranquilo. Nesta parte, a BR 285 continua excelente, só que o acostamento alterna bons e maus trechos – na verdade os maus trechos são a maioria. Fiz uma boa escolha saindo hoje de Passo Fundo. Continuei em movimento e economizei alguns reais. Pedalei 98km tranquilamente em 5h40min, com velocidade média de 21.7km/h.

Cheguei em Lagoa Vermelha eram 17 horas. A cidade não oferece grandes opções para quem a visita. Dei uma volta pela cidade com “A Poderosa” e me recolhi. Depois dos procedimentos habituais – banho, lavar a roupa, sair para comer e comprar algo para o outro dia, responder as perguntas das pessoas curiosas, registrar os dados e os acontecimentos do dia, ler e responder as mensagens do celular e atender uma ou outra ligação - me deitei na cama e desmaiei. Ufa! Tem dias que fica bem corrido para cumprir este ritual.

Amanhã devo ir até Vacaria. Veja bem a colocação e o sentido “que eu quis dar ao verbo dever”. Porque já não tenho certeza e não quero mais afirmar nada antes que chegue a hora da saída. Entenderam!

21:40

Passo Fundo/Lagoa Vermelha: 98km

Total km/Dia: 100.62km

Velocidade Média: 21.7km/h

Carazinho/Passo Fundo...



Quinta 05/02/2009

Dormi mal esta última noite. Foi parecido com aquela vez em Candelária. Estou com o corpo todo dolorido de ontem, e se Passo Fundo não estivesse a 46km de Carazinho, talvez ficasse mais um dia por lá. Mas não no mesmo lugar. É claro!

É interessante lembrar o que se passou na noite passada. O calor continuava e resolvi dormir com a janela do quarto aberta. Me acordei de madrugada quando alguns mosquitos me atacavam, a julgar por um deles que consegui acertar e manchou minha testa de sangue, deviam estar bem alimentados. Mas não foi só os mosquitos não! Altas horas da madrugada meus vizinhos de quarto resolveram fazer sua festinha particular. Ai sim! Era amor pra cá, amor pra lá... E a função durou algum tempo. Não tinha como dormir. Me levantei, ajeitei "A Poderosa" e esperei chegar as 6 horas. Queria sair o quanto antes desta pousada, ou motel, ou os dois, sei lá! Minha noite foi péssima. Dormi muito mal, logo hoje que a pedalada foi longa e desgastante.

Percorrendo a agora excelente BR 285, cheguei em Passo Fundo eram 9h30min. Parei numa loja especializada em ciclismo onde conheci o Xico, comerciante e ciclista que gentilmente me convidou para almoçar em sua casa. Xico, obrigado pela força. O almoço estava ótimo. Após o almoço fui procurar um lugar para ficar, me deitar um pouco e aplumar o esqueleto.

Devo ter dormido 1 hora ou 1h:30min, o suficiente para ganhar ânimo e sair para conhecer a cidade. Passo Fundo se parece com os grandes centros do estado. A cidade é dominada por prédios, pelo fluxo intenso de carros e as calçadas sempre cheias de transeuntes. Apesar do tamanho, Passo Fundo não possui apelo turístico forte, e não tinha muito que conhecer aqui no centro da cidade. Visitei um museu, tirei fotos do monumento do Teixeirinha "o rei do disco", e caminhei pela cidade. Assim passei o resto da tarde aqui na terra do trigo.

Apesar das dores no corpo, criei coragem para fazer algo que já devia ter feito a tempo, dei uma geral na "Poderosa". Nos últimos dias evitava o máximo olhar para a relação dela, assim não me sentia tal mal. É aquela coisa, "o que os olhos não veem o coração não sente". Terminada a limpeza, minha única obrigação agora é dormir.

O plano para amanhã é ficar mais um dia em Passo Fundo, recuperar 100% meu sistema muscular, articular, cardiovascular e psicológico e aí sim seguir para Lagoa Vermelha. Boa noite pra mim!

19:20

Carazinho/Passo Fundo: 46km

Total km/Dia: 54.29km

Velocidade Média: 15.8km/h

Ijuí/Carazinho...


Quarta 04/02/2009
Decidi ontem à noite que viria até Carazinho. O cronograma inicial foi alterado mais uma vez. Ainda sigo o roteiro e passo pela maioria das cidades que me propus, mas de agora em diante deixarei para à noite ou no café da manhã decidir meu destino do dia.
Tive que pedalar mais forte hoje para cumprir a distância necessária e chegar a tempo de encontrar algum estabelecimento aberto. Foram 136km de um sobe e desce interminável sob um sol muito quente, que, se já não faz os mesmos estragos dos primeiros dias, é verdade, mais ainda assim maltrata o peão.
As imensas plantações de trigo, cada vez mais bonitas e próximas do asfalto, me distraem enquanto passo por lugares desertos onde a único som que escuto é a música do meu mp3. A BR 285 muda da água pro vinho após o pedágio de Carazinho. E agora tenho um novo espaço para pedalar, o acostamento.
Cheguei em Carazinho eram 20 horas e ainda fazia bastante calor. Com a chegada da noite pouca coisa mudou, a temperatura segue alta para o horário e a região. Saí para comprar algo e me impressionei com o movimento na avenida principal da cidade, eram carros estacionados nas calçadas e postos de gasolina com seus condutores usando o aparelho de som no último volume e uma garrafa de cerveja na mão. Até por aqui anda tudo errado! Isso tudo em plena quarta-feira. Se é a primeira impressão que fica, Carazinho não me atraiu nem um pouco.
Voltei para a pousada , arrumei minhas coisas e me preparei para dormir. A princípio, amanhã será um dia mais tranquilo. Chegarei a terra do trigo, Passo Fundo.
22:30
Ijuí/Carazinho: 136km
Total km/Dia: 136.80km
Velocidade Média: 19.1km/h

São Miguel das Missões/Ijuí...



Terça 03/02/2009

São Miguel ficou para trás. Santo Ângelo que a princípio seria meu destino hoje, também já se foi. Escrevo este texto do terceiro andar de um quartinho quente e apertado na cidade de Ijuí.

Cheguei cedo em Santo Ângelo, pedalei os 58km antes do meio-dia. Almocei e saí para conhecer a cidade. A temperatura era agradável e o céu começava a ficar encoberto. A catedral de Santo Ângelo, localizada na praça central, passou por reformas à alguns anos atrás, hoje é o cartão postal da cidade. Também visitei a antiga estação férrea e hoje museu, local de reunião e partida da coluna prestes que percorreria 25 mil km a pé pelo Brasil em aproximadamente 2 anos e 3 meses, tempo em que difundiram suas idéias entre a população reivindicando mudanças no cenário politico da época.

"A Poderosa" chama atenção por onde passa, mas no museu eu também tive meu momento de fama, dois porto alegrenses e mais a galera do museu tiraram algumas fotos nossas. Eram 15 horas e não havia mais o que conhecer na cidade. Em uma auto avaliação , psicologicamente e fisicamente eu me sentia muito bem. O céu continuava encoberto e a temperatura estava agradável. Decidi seguir em frente e adiantar alguns km.

Em uma meta audaciosa, resolvi que iria até Cruz Alta, distante 87km de Santo Ângelo. Tenho que conseguiria alcançar meu objetivo, mas a chuva me fez ficar em Ijuí. Choveu forte durante 1 hora, fiquei abrigado num posto de gasolina a 500 metros da pousada onde estou agora. Dificilmente encontrarei uma pousada mais barata que esta durante a viagem. Eu poderia escolher, 10,00 reais s/ café ou 14,50 c/ café. Optei pela segunda. A pousada fica em frente a rodoviária de Ijuí.

Seguem os perigos na BR 285. Tanto o asfalto como a topografia do terreno seguem os mesmos. Amanhã será um dia bem longo na estrada, quero ver se chego a Carazinho, 130km de Ijuí. Até amanhã.

21:57

São Miguel das Missões/Ijuí: 96km

Total km/dia: 110 km

Velocidade Média: 18.6km/h

São Luiz Gonzaga/São Miguel das Missões...


Segunda 02/02/2009
Em meu roteiro existem duas cidades que por algum motivo turístico e/ou histórico despertaram minha curiosidade, e passar por elas se tornou uma obrigação em meu roteiro. Hoje cheguei em uma dessas cidades.
Deixei a pousada e fui em direção a praça central de São Luiz Gonzaga com o objetivo de conhecer os dois museus que ficam próximo ao centro da cidade. O primeiro museu, bem na esquina da praça, trás em seu acervo objetos pertencentes ao senador Pinheiro Machado. O segundo, umas três quadras abaixo da praça, mostra exposições missioneiras. Após as visitas, passei no supermercado e comprei alguns lanches para o dia e parti em direção a São Miguel das Missões.
Agora estou na BR 285, rodovia que liga São Borja - na fronteira oeste gaúcha - a BR 101 no nordeste do estado. Portanto, a BR 285 será minha companheira até São José dos Ausentes, quando pego o desvio para Cambará do Sul.
Nesses primeiros 60km já tive uma idéia do que vou enfrentar. Esta rodovia é sem dúvida a mais perigosa que já pedalei até agora. O asfalto não chega a comprometer mas e o acostamento. Cadê o acostamento??? Seu estado é lamentável. Então temos o seguinte quadro. O fluxo de caminhões nesta região é intenso. Os hermanos argentinos passam "chutados" em direção a Florianópolis. E "A Poderosa" e eu ali, sendo jogado pro suposto acostamento e voltando pra rodovia a todo instante. Mas tudo bem, vamos em frente com muito cuidado.
Não basta-se esta situação tive que enfrentar adversidades climáticas também. Não, não é do sol que estou falando, ele estava lá, mas já estou bem mais habituado a ele. Agora era o vento contra. O terreno apresenta uma topografia que é literalmente um "tobogã", não existe mais do que 300 metros planos até o acesso a São Miguel. Eram 14h15min quando cheguei na cidade.
Todas estas dificuldades que citei foram recompensadas quando ainda de fora do parque avistei as ruínas de São Miguel de Arcanjo, a mais preservada e importante redução missioneira. A igreja levou 10 anos para ser construída e era a base da comunidade indígena e jesuítica se tornando um modelo de organização para a época. Quem conhece um pouco a história do povo missioneiro se arrepia quando caminha entre as paredes da ruína, a impressão que se tem é que os mortos estão todos ali, te olhando. É incrível! Caminhar naquele gramado é voltar no tempo e é impossível não se impressionar com a grandiosidade desta obra.
A noite fui assistir ao espetáculo "som e luz", que conta a história desde a chegada dos jesuítas até a batalha final contra portugueses e espanhóis em Caibaté. Os planos para amanhã é chegar em Santo Ângelo.
23:30
São Luiz Gonzaga/São Miguel das Missões: 57km
Total km/Dia: 57.25km
Velocidade Média: 18.3km/h

quinta-feira, 12 de março de 2009

Santiago/São Luiz Gonzaga...


Domingo 01/02/2009
A despedida sempre foi um momento complicado para mim. Nunca soube lidar bem quando chega esse momento. Acho até que transmito indiferença em algumas ocasiões, mas acreditem, é pura insegurança. Verdade! Talvez medo ou vergonha de demonstrar o que realmente sinto. É complicado.
Enfim, parti pensando em algum motivo para voltar, mas não tem jeito, a viagem deve prosseguir e muita coisa boa me espera pela frente. De agora em diante, preciso estar sempre em movimento para fechar o roteiro a tempo.
Saí de Santiago às 8h45min. Seriam 100km até meu próximo destino, e ao que tudo indicava, sob forte calor. Mas hoje eu estou forte, muito forte. E como diz aquela canção infantil de Luiz Tatit "hoje eu sinto que cresci bastante........sinto mesmo que sou um gigante".
Domingão, estradas vazias, mp3 no último volume. Que vida boa! Após 15km pela BR 287 chega-se ao trevo que leva até São Luiz Gonzaga. Agora eu já estava na RS 168. Uma rodovia nova - pelo menos no asfalto - até a cidade de Bossoróca, terra natal de Olivio Dutra. Imaginem só, domingo em bossoróca. Eu andava sozinho pela cidade.As plantações de trigo começam a aumentar durante o caminho, e a RS 168 já não é mais a mesma rodovia nova.
Antes de São Luiz Gonzaga encontrei o Cláudio, ciclista que pedalava uma speed antiga e estava treinando. Mais tarde nos encontramos na cidade e dividimos um refri estupidamente gelado. Esperei um convite que não veio. Mas tudo bem, valeu Claudio e boas pedaladas. Após algumas fotos, procurei algum lugar para ficar. Hospedado, saí para comer algo. Estava com vontade de comer arroz, feijão e carne, só que domingo as coisas complicam um pouco. Mas quem procura acha. Comi uma bela duma alaminuta assistindo ao jogo do meu colorado. Inter 4 x 0 Caxias. Que beleza!
Após matar o que me matava, voltei para a pousada. Amanhã darei mais uma volta pela cidade, quero visitar uns museus antes de seguir viagem. Meu destino amanhã é São Miguel das Missões.
22:58
Santiago/São Luiz Gonzaga: 101km
Total km/Dia: 104.91km
Velocidade Média: 19.5km/h

Santiago...





Sábado 31/01/2009


Estou na casa de aventureiros, pessoas que colocam a liberdade em primeiro plano. Logo nos identificamos.


Me sinto muito bem aqui nos Deleon, melhor do que na casa de muitos parentes. O Jorge e a Rô, me mostraram as fotos das suas "indiadas" de moto, eles já foram para a argentina, Chile, Peru e estão planejando ir para a Bolívia, mais precisamente em La Higuera onde foi morto o Che Guevara. Isso é sensacional. As fotos são lindas.

Acho que eram 11 horas quando saímos de carro para ir a gruta. Infelizmente pela falta de tempo lugares lindos como esse ficam pra trás durante a viagem. Afastada 12km da rodovia, sendo que 9km são de asfalto e 3km de chão batido, a gruta oferece toda estrutura para se passar um dia com a família. Encontramos uns porto alegrenses vizinhos meus, moram no Jardim Leopoldina e estavam visitando sua terra natal. Caminhamos dentro da gruta, fizemos trilha e tomamos banho de cachoeira. Aliás, fiquei parecendo uma zebra com aquela sunga e sem camisa. Foi ótimo. A noite comemoramos o aniversário de casamento do jorge e da Rô, com um belo churrasco.



Fico feliz por ter chegado até aqui, por ter saúde suficiente para seguir em frente e por ter uma boa memória para jamais esquecer esse momento. OBRIGADO FAMÍLIA DELEON!

23:45

São Vicente do Sul/Santiago...





Sexta 30/01/2009


Após tomar o melhor café da viagem até agora, peguei a estrada às 9h10min e o sol já mostrava que seria mais um dia daqueles. Mas tudo bem, hoje me acordei muito bem disposto e sol será só mais uma imagem que quero admirar.


A BR 287 segue perfeita até Santiago e o acostamento alterna bons e maus trechos. Como haviam me dito, a altimetria do terreno aumenta e após o acesso a cidade de Jaguari começa uma escalada forte de 6km. O restante do caminho é um sobe e desce contínuo.


Após Jaguari, começam as mudanças na paisagem em relação a região central do estado. Durante o trajeto e em vários trechos se pedala pelas sombras dos pinheiros plantados próximo a rodovia. Fiz um lanche mais reforçado hoje já eram 13 horas, e cheguei em Santiago às 15h30min. Após um breve reconhecimento da cidade, fui procurar a casa dos Deleon, tarefa fácil de realizar devido a notoriedade de meu anfitrião.


Fui recebido muito bem por todos da família. Saímos a noite para fazer um lanche e caminhar um pouco pelo centro da cidade. Amanhã passarei o dia aqui. Parece que o Deleon achou uma brecha em sua agenda tumultuada e quer me levar até a gruta N°S. de Fátima na cidade de Nova Esperança. Até amanhã então!


21:00


São Vicente do Sul: 69km


Total km/Dia: 92.96km


Velocidade Média: 15.8km/h

Santa Maria/São Vicente do Sul



Quinta 29/01/2009

Este monumento centenário situado no meio da praça central é a atração turística de São Vicente do Sul. Recuperado psicologicamente e fisiologicamente da indisposição estomacal, parti às 6 horas de Santa Maria, chegando ao meu destino às 12 horas.

Este trecho da BR 287 é excelente e o acostamento é muito bom em sua grande parte. Até as 10 horas o sol estava escondido atrás de grandes nuvens ameaçadoras. Pouco antes de chegar em São Pedro do Sul, o asfalto molhado indicava que a chuva havia passado por ali a pouco tempo. Mas ele, resolveu dar as caras, e veio daquele jeito, castigando quem o desafia-se, em uma reta interminável próximo ao acesso a Mata, o que eu via lá na frente, bem lá na frente, era uma subida, aí sim. Mas vamos lá, metro por metro cheguei em São Vicente ainda pro almoço, e agora com o tempo fechadão. Tratei de almoçar e saí para procurar um lugar pra ficar, antes que São Pedro mandasse o que estava preparando.

Terei a tarde inteira para descansar hoje. São Vicente do Sul não tem nenhum apelo turístico e seus aproximadamente 6 mil Habitantes vivem na mais absoluta tranquilidade.

Amanhã me afasto definitivamente da região central do estado. Daqui até Santiago as subidas começam a ficar mais longas, em compensação o cenário se torna mais atraente. Ainda preciso ligar pro Deleon avisando pra colocar mais água no feijão.

20:05

Santa Maria/São Vicente do Sul: 91km

Total km/Dia: 92.96km

Velocidade Média: 20.2km/h

Santa Maria...





Quarta 28/01/2009


Após uma boa noite de sono as coisas começam a melhorar, mas meu estado físico ainda necessita de cuidados, seria imprudente se voltasse a pedalar hoje.


Após o café da manhã na própria pousada, saí para conhecer a quinta cidade mais populosa do estado. Santa Maria é realmente grande, com um vai e vem de pessoas apressadas indo sabe-se lá pra onde - como diz aquela letra do Raul "pessoas que trafegam sem porque" - , esse tumulto todo me fez lembrar do que eu estava querendo esquecer nesta viagem, do caos que é POA.


Não me afastei muito do centro, e ali mesmo conheci o museu Vicenti Palotti, em seu acervo se encontra materiais dos primeiros anos da UFSM, como esta cadeira do primeiro curso de odontologia, e que mais parece um antigo instrumento de tortura. Visitei o museu sacro com objetos usados por Dom João, bispo de Santa Maria, o bonito teatro Treze de Maio, a antiga estação férrea, caminhei pelo calçadão e Shoping de Santa Maria e conversei um pouco com os santamarienses.


Esses quatro dias na estrada e as consultas que fazia diariamente ao mapa me fizeram reparar um erro que cometeria se seguisse meu plano original, saindo de Santa Maria com destino a Cruz Alta. Isso porque teria que ir até São Miguel das Missões e retornar pelo mesmo caminho uns 100km para seguir em frente. Hora, isso é um absurdo e extremamente frustrante para um cicloturista.

Lembrei do convite feito pelo Jorge Deleon - na verdade eu nunca esqueci - "o tatuador que havia encontrado em Butiá, calculei a distância até Santiago - 160km - e resolvi que iria pra lá. Decidi que este trajeto seria cumprido em dois dias, com escala em São Vicente do Sul, distante aproximadamente 90km de Santa Maria. Restariam 70km até os Deleon. Amanhã, "A Poderosa" e eu voltamos a estrada novamente.

22:34

Candelária/Santa Maria...

Terça 27/01/2009

Saí de Candelária eram 7h20min, preparado para o pior. O céu estava carregado e como disse seu Oswaldo: "guri, acho que hoje tu vai molhar teu pelo". Parti assim mesmo.
O presságio de meu amigo não se confirmou e cheguei para almoçar em Restinga Seca sob sol forte. Mais uma vez! Depois do almoço, estendi minha lona na área em frente ao restaurante e cochilei um pouco. Adquiri esse hábito em casa e confesso que estava sentindo falta desses preciosos minutos.
Queria chegar logo em Santa Maria e voltei a pedalar às 15 horas, pensei várias vezes em ficar mais um pouco deitado, mas desta vez a vontade de ir foi mais forte. Arrumei minhas coisas, passei o protetor e saí, naquele forno natural. Mais 25 ou 30km e eu chegaria a meu destino e isso me deixava com mais vontade de chegar.
Saindo de Candelária, os primeiros 40km da RS 287 continuam bons e com o mesmo acostamento ruim. A partir deste trecho a RS se torna péssima, o acostamento está ali, mas é como se não estivesse. São aproximadamente 55km nesta situação, até próximo a Santa Maria.
Cheguei na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) às 17 horas. Conheci boa parte do campus, o prédio do curso de ed. física e a casa do estudante que segundo uma aluna que mora nela, é a segunda maior em capacidade do Brasil, ficando atrás apenas da USP de São Paulo.
Não sei se foi o almoço que não me caiu bem - aqueles pastéis tinham uma aparência duvidosa, mas só fui refletir sobre isso quando eles estavam confortavelmente acomodados dentro do meu estômago - ou a água quente que eu tomava durante o trajeto, ou a sequência de dias quentes que fazia, a noite mal dormida, ou ainda e mais provavelmente a soma de todos esses fatores, mas a verdade é que cheguei em Santa Maria com uma indisposição estomacal e intestinal forte. O segundo problema resolvi rapidamente no banheiro da pousada. Mas a primeira me deu mais trabalho. Eu já havia tomado quase toda a garrafa de refrigerante 2 litros e comido uma barra de chocolate inteira em questão de 15 minutos. Mas além dessas guloseimas, nada me apetecia. A noite tentei comer algo que tivesse proteína, pedi um xis mas o lanche não desceu, entreguei-o intacto a uma menina que pedia dinheiro na rua. Passei a noite com a barra de chocolate e o refrigerante.
Amanhã ficarei em Santa Maria, o que me proporcionara mais tempo para me recuperar e conhecer a cidade.
22h50min
Candelária/Santa Maria: 104km
Total km/Dia: 114km
Velocidade Média: 20.5 km/h

quarta-feira, 11 de março de 2009

Rio Pardo/Candelária

Segunda 26/01/2009





Após acordar às 7h30min, minha principal tarefa era definir o roteiro para o dia. Isso mesmo, é o meu segundo dia e já estou repensando parte do cronograma inicial. Lembram-se, é a tal da flexibilidade.





A verdade é a seguinte, o dia de ontem foi muito desgastante, a km foi muito alta. O sol muito quente vai pouco a pouco minando sua resistência, e o pior é que, ao menos comigo, vou sentir os sintomas somente a noite quando paro para descansar. Isso é muito perigoso, pois pode lhe dar a falsa impressão que você está bem, mesmo com o sol forte.





Analisando o mapa, estabeleci a cidade de Candalária, distante 75 km de Rio Pardo, como destino para o dia. A cidade não me atrai muito, mas fica a meio caminho de Santa Maria, cidade que desejo visitar. Ou seja, São Sepé com seus 163 km seriam indigestos para mim, e o sol já mostrava que não iria dar tréguas. São Sepé ficará para outra oportunidade. A quem diga que não perdi nada.





Antes de chegar em Candelária passei por Santa Cruz do Sul, cidade que conheço de cabo a rabo. Hoje troquei o almoço por um lanche e ainda em Santa Cruz, encontrei um taxista que começou a me contar suas aventuras, e tudo era comprovado com as fotos. Em uma delas. e mais impressionante para mim, ele e mais três amigos construíram uma balsa com oito tonéis e atravessaram o delta do rio jacuí, chegando no rio guaíba. Esses caras são loucos!





De Rio Pardo a Santa Cruz do Sul a BR 471 é excelente e o acostamento é regular. De Santa Cruz a Candelária a RS 287 é boa e o acostamento é ruim.





Cheguei ao meu destino eram 17h45min, dei uma volta pela cidade e sai a procura de algum lugar para ficar, estava disposto a economizar e comecei a sondar os moradores. Numa dessas sondagens conheci seu Oswaldo, caminhoneiro aposentado que me ofereceu sua garagem para passar a noite. Aceitei sem titubear. Armei minha barraca, usei seu banheiro, sua geladeira e lavei minhas roupas em seu tanque. Seu Oswaldo é gente boa. Já não posso dizer o mesmo do seu cachorro, o bichinho não foi com a minha cara e ficou de guarda em frente a minha barraca, a cada movimento meu o guaipeca ficava uns dez minutos latindo. Soma-se a isso o calor que fazia àquela noite, os milhares de mosquitos que existiam naquela garagem- próxima viagem levar repelente -, e a posição desconfortável que eu tinha que ficar dentro da barraca por ela ser muito pequena quando se usa o colchão inflavel e vocês terão uma idéia de como foi minha noite. Economizei uns 20,00 reiais, mas durmi no máximo 3 horas. Neste dia, o barato saiu caro pra mim! Mas valeu, conheci seu Oswaldo e isso é o mais importante.

Hoje foi mais um dia daqueles, o sol continua muito forte e após o a parada do meio-dia não é aconselhavél voltar a estrada. Amanhã sigo para Santa Maria, distante 100 km de Candelária. E que o astro rei tenha pena de mim.

22:40

Rio Pardo/Candelária: 76 km

Total km/Dia: 77.92 km

Velocidade Média: 18.6 km/h

Alvorada/Rio Pardo



Olá amigos.......

Como havia prometido, a partir de hoje começo a postar meu relato diário da viagem pelo RS. Leiam o primeiro post deste blog onde falo sobre o plano e os objetivos desta viagem. Então é isso, leiam, comentem e se divirtam. Um Abraço...



Domingo 25/01/2009

A saída estava progamada para as 5:00 horas, mas acabei saindo às 5 h30 min, ou seja 30 minutos de atraso. Eu sei que 30 minutos a mais ou 30 minutos a menos não vai fazer falta nesta viagem, mas é que no dia a dia também é assim, fico enrolando enrolando e acabo chegando atrasado em algum compromisso. Um dia, talvez, quem sabe eu consiga incorporar a pontualidade britânica.

Pedalei 122 km até o meio-dia, sendo que 20 km não me serviram pra nada, o otário aqui passou reto no desviu para continuar na BR 290 e acabei pegando a BR 116 e indo em direção a Camaquã e Pelotas. Corrigido o erro, cheguei em Butiá no horário do almoço com o sol avisando o que estava por vir. Parei em frente ao restaurante e tirei a camisa de cima que estava encharcada de suor, é lógico que a de baixo também estava, só que era uma camisa regata. A mulher que ficava no balcão e o garçom do restaurante tinham ou estavam com umas caras de bunda. Qualquer favor que eu ou outro cliente pedia a eles, estavam sempre com aquelas caras de bunda. Mas a comida era boa, e era isso o que eu estava interessado em comer no momento.

No restaurante conheci o Jorge Deleon, um tatuador de Santiago que estava com a sua família almoçando e iria em direção ao litoral norte. Ele me viu chegando com "A Poderosa" e me fez as tradicionais perguntas e, logo após as tradicionais respostas me fez um convite: passar por Santiago e ficar hospedado em sua casa. Após uma breve consulta ao mapa, disse a ele que iria estudar a possibilidade, mas era bem provável que aparecesse por lá.

Antes que eu ficasse com cara de bunda também, saí do restaurante e fui descansar na sombra de baixo de uma árvore. Eram 1h30min, e eu só pretendia voltar a estrada às 16:00 horas. O Sol estava de rachar.

Restavam 60 km até Rio Pardo e eram 20:00 horas quando finalmente cheguei na cidade. Fui ao supermercado, andei um pouco pela cidade e me acomodei em alguma pousada.

Este primeiro dia foi muito desgastante devido as condições do clima e a alta km que fiz. Um erro, pois meu corpo ainda está se adaptando a este peso extra que carrego. Mas amanhã sigo em frente, sem saber ao certo pra onde vou.

22:40

Alvorada/Rio Pardo: 166 km

Km Total/Dia: 192 km

Velocidade Média: 21.4 km/h

sexta-feira, 6 de março de 2009

Readaptação....

As dores musculares pós exercício causada pelo treinamento de volume (distância) já estão superadas. Incorporei ontem ao treino a parte intensiva(velocidade), responsável pela melhora do ritmo durante a prova.
Sempre que estamos retomando um treinamento nunca devemos voltar com a mesma carga de trabalho em que se parou. Mesmo que este intervalo seja pequeno - tipo 2 semanas - , nosso corpo sofre mudanças durante o período inativo e é preciso lembrá-lo do que esqueceu.
Cada pessoa é única - no treinamento físico chamamos está condição de "principio da individualidade" -, portanto, além do fator genético outros aspectos influenciam numa maior ou menor perda do condicionamento físico. Por exemplo: sexo, idade, peso, histórico esportivo, rotina profissional e descanso são alguns itens que devem ser levados em conta na hora de retornar as atividades. É interessante também realizar algumas avaliações físicas como por exemplo: teste aeróbio e anaeróbio, neuromuscular e percentual de gordura que servirão como parâmetro para identificar em que nível se encontra o atleta após o tempo inativo. Estou falando de procedimentos que devem ser realizados por quem ficou de1 à 2 meses parado. Acima deste tempo, sugiro que procurem um médico e façam alguns exames preliminares.
Pessoal, por isso é importante o acompanhamento de um profissional capacitado, que saberá usar todos os resultados destes testes, elaborando um treinamento eficiente e seguro, para que você atinja os resultados o mais rápido possível.
Como disse no início, ontem foi dia de retomar os treinos de "qualidade" ou "intensidade"ou ainda "velocidade". São treinos com distâncias curtas e sempre acima de 85% da frequência cardíaca máxima (F.C.M). Melhoram o ritmo e capacidade anaeróbia e o VO2 Máx. Utiliza-se as mais variadas distâncias, para os diferentes tipos de provas, sempre intercalando estímulo x descanso x estímulo.
Antes da viagem, meu treino de qualidade era o seguinte: trote / 3x2km/2'30''/ trote. A base era 3'30''. Para um atleta amador que se vira para conciliar os compromissos do dia a dia com o esporte, acredito que esteja - ou estava - bom. Ontem na planilha constava a seguinte série: trote / 3x1kmx2' / trote. Base 3'40''. Meus amigos, fiz as séries dentro do tempo, mas só eu sei o quanto me custou. Devido a quantidade insuficiente de oxigênio os músculos começam a tremer no final de cada série. A cabeça também dói e o estomago fica numa ácidez tremenda. Para mim estes treinos são os mais difíceis e por isso se torna um grande desafio. É bem legal, se é que me entendem!
E é isso, terminei o treino de ontem com aquela deliciosa sensação do dever cumprido. Por falar em dever cumprido, ainda estou devendo meu relato diário da viagem pelo RS. Galera - até parece que muita gente lê este blog -, eu não esqueci, é que ando bastante ocupado nos últimos dias mas promessa é promessa. Por isso aguardem, em breve, aguardem.

"O homem vive de razões e sobrevive de sonhos.." (La Rochefoucauld)

Um abraço!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!